Para As Barcas, obra inspirada num conjunto de textos de Gil Vicente, figura marcante do teatro medieval português, desenvolvemos um sistema de trabalho que se desdobra em duas direcções e que procuramos fazer coincidir: a performance e um conjunto de medias e tecnologias interactivas que se inscrevem no tempo real. Regressámos ao tema das viagens. Às viagens a um corpo impossível, desconhecido, a um corpo perdido num labirinto vazio de sentidos, condenado, corpo impossível e fora do tempo, virado do avesso, corpo que se move num espaço para além da vida, num espaço propriedade da morte.
Buscamos no texto o corpo, o esqueleto, o músculo. Buscamos a sensibilidade por debaixo da linguagem, dentro dos segredos, das opacidades dos sentidos, das palavras, enquanto olhares para o mundo. Este conjunto de textos colocam os mortos a falar de si, dasua vida e dos modos como a viveram. São textos que funcionam como espelhos invertidos do mundo, de uma época. São textos sobre o um mundo impossível.