O que é que há de Antígona e de Ismene em cada um de nós? E em diferentes momentos da nossa vida? Como é que nos dividimos interiormente e por um momento podemos ser Antígona – a mulher corajosa, teimosa, implacável que acaba por se matar por não aceitar que as coisas mudem – ou podemos logo de seguida ser Ismene a mulher que aceita obedecer vergando-se à vontade dos poderosos? É possível estabelecer esta coexistência? Ela existe ainda que secretamente dentro de nós como uma figura apenas sonhada por revelar? Somos muitos seres em diálogo uns com os outros? Somos um caminho para uma imagem com cada vez maior definição? Ou pelo contrário somos um caminho para uma imagem que se desfaaz, ruína de si mesma? Salvação e destruição, doença e cura, vírus e portador numa união incompreensível, num diálogo de vida e morte que se renova? Imagens sucessivamente fragmentando-se, multiplicando-se, desfazendo-se sucessivamente sobre a consciência que escapa, diálogos de mentes doentes, doenças que são chaves para a possibilidade de distância necessária para continuar a procurar o fim das coisas.