A partir da obra Passos em Volta de Herberto Hélder pretendemos pensar a história de um poeta e de um país que faz parte de um continente em extinção: a Europa tal como a conhecemos. É também um espetáculo sobre o teatro e aqueles que dedicam a sua vida à poesia feita através dos seus corpos. Partindo do conjunto de textos agrupados na obra homónima do autor, iremos incluir no trabalho criativo, um conjunto de outros poemas e excertos biográficos do poeta. A estreia ocorrerá no segundo trimestre de 2019, seguindo depois para itinerância nacional e internacional. A realização do espetáculo vai conjugar-se com workshops de captação de potenciais atores onde a construção da peça será discutida e em parte delineada. Este aspeto criativo que fará alastrar o estudo e reflexão sobre a importância da obra poética com os “dias de hoje”. Vamos procurar construir um estúdio poético onde a obra de arte e as suas relações com o mundo serão abordadas. A ideia é fazer estas conversas serem colocadas online e fazerem parte da construção cénica ou pelo menos influenciá-la.
Os textos de Herberto Hélder são um pretexto para a perceção de um eu que tem um corpo, que sente, que procura Deus, o amor, que busca transcender-se. E espreitar-se. É um caso especial de biografia que desafia a perspetiva moral com que nos vemos, com que revestimos natural e repetidamente as nossas cicatrizes, como se os hábitos de vida, de linguagem, de gestos nos defendessem de nós mesmos. As palavras funcionam aqui como passos em volta, como olhares que nos fazem tremer, como raios incisivos que assustam e atraem. Há tantas frases, tantas palavras, que afrontá-los é uma viagem antiga, uma dança de cadeiras e mesas de pernas partidas. Transcrevo uma citação de um desses contos, pela teatralidade que encerra, exemplo das inúmeras entradas e saídas de cena. Os comboios que vão para Antuérpia fala de uma árvore esquisita, do amor e da sua capacidade de nos abrir o coração aos homens e desse sentimento de desespero difuso de alguém que luta num corpo fechado por se libertar em direção à luz. Fala desse olhar de dentro para fora e do seu reflexo de novo a caminhar para dentro. Ou talvez seja do seu inverso, o olhar para dentro a caminhar desesperado para fora, na procura de um ramo para pousar tal pássaro inquieto e esquisito também. Esses corpos em forma de comboio que estão em luta com o deus que existe dentro deles, do seu corpo em linhas paralelas e da vida que vive no brilho do metal que atrai o olho e o faz sufocar e escrever.
A importância da sua obra, as qualidades poéticas, o desejo de se esconder e revelar através da poesia, tudo será utilizado para a construção destas duas etapas: conferência performance e espetáculo. Vamos invocar vários temas importantes para nós e questionar os modos de fazer. Vamos usar as palavras e o dizer, os sentidos e a poesia que anseia pelo paradoxo do amor que desespera de amar. Vamos agarrar-nos a invisível naquilo que tem de mais durável, de permanente, pois o visível está em permanente mudança e de facto, não nos traz nem satisfação nem confiança. Na conferência performance vamos usar o por dentro das palavras e questionar o que nos liga. No espetáculo vamos em busca da coragem de dizer e fazer acontecer o vivo que se manifesta por dentro e por fora da poesia.
jgm – joão garcia miguel
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Textos Originais: Herberto Hélder
Adaptação, Direção e Espaço Cénico: João Garcia Miguel
Interpretação: João Lagarto, David Pereira Bastos, Duarte Melo, Lara Guidetti ou Beatriz Godinho
Banda Sonora: Alberto Lopes
Iluminação e Direção Técnica: Roger Madureira
Assistência técnica: Luís Gomes
Figurinos: Rute Osório de Castro
Direção de Produção: Georgina Pires
Fotografia: Mário Rainha Campos
Imagem e Comunicação: Joana Júdice
Assistência à Encenação: Rita Costa
Assessoria de Imprensa: Alcina Monteiro
Apoio Técnico: AUDEX